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Cristina Rocha Leiria

"Não sou escultora, sou apenas uma mensageira"
A poucos passará despercebida a principal obra de Cristina Rocha Leiria no concelho que escolheu para viver já lá vão mais de 40 anos. Falamos “Elan de Mãe”, uma escultura de arte pública em pedra branco-mar, que com uns generosos três metros de altura, se ergue majestosa em pleno relvado do Parque Marechal Carmona.
Foi junto a esta obra inaugurada a 4 de maio de 2003 que Cristina quis ser fotografada para esta rubrica e foi lá que partilhou com o C a origem deste trabalho que guarda num cantinho especial do seu coração. “Esta foi a primeira escultura que eu fiz em barro, quando era miúda, e foi também a primeira que fiz em cristal e em pedra. Mostra a ligação entre uma mãe e a criança que desde o momento em que sai do ventre materno fica entregue nas mãos do universo”. Cristina vai ainda mais longe e explica que neste “Elan de mãe está presente a dualidade das nossas vidas: a lágrima de tristeza e de alegria”.
 
Na visita, Cristina aproveita para lançar o desafio à Câmara Municipal, para “subir o nível do relvado junto à estátua de modo a permitir que as crianças possam tirar maior partido da mesma passando por dentro espaço livre formado entre a mãe e a criança”. Outros pormenores a (re)descobrir recaem sobre a ligação entre o Mariano número 13 e o 17 oriental associado à Deusa Kun Iam, Mãe Divina. 
Nascida em Lisboa a 25 de abril de 1946, Cristina Rocha Leiria viveu em Moçambique entre os 2 e os 17 anos, altura em que regressou para estudar arquitetura na Escola Superior de Belas Artes. Foi a arquitetura o seu primeiro amor, motivo pelo qual se especializou em Planeamento na University College, em Londres. Aprofundou estudos sobre Feng Shui, em Macau, China e Japão, e Eletromagnetismo, em França e exerceu em locais tão distintos como Reino Unido, Moçambique, Rodésia, África do Sul, Portugal e Macau. A partir de 1992, por diversas vicissitudes e com um bom incentivo da Atlantis que chamou Cristina Leiria para criar uma obra a ser produzida em cristal – o Presépio Tríptico – , o coração de Cristina penderia agora também para a escultura onde encontrou um dos valores para mais preciosos: o silêncio.
 
Um dos maiores desafios da sua vida prende-se justamente com o silêncio: a construção do Centro Ecuménico Kun Iam – aberto a todos, crentes e não crentes -, em Macau, numa ilha artificialmente criada para isso. Habituada a abraçar grandes causas, Cristina Leiria aceitou o desafio lançado por Rocha Viera, na altura governador de Macau para criar uma estátua de grande porte (20 metros de altura) em bronze, que por razões diversas viria a ser dedicada à Deusa Kun Iam ou Quanyn, equivalente a Nossa Senhora para os orientais. Cristina é rápida a demonstrar a sua inspiração: “não sou escultora, sou apenas uma mensageira”, diz, erguendo as mãos ao céu. 
Seriam, contudo, precisos mais de 20 anos para realizar um sonho muito antigo: fazer um presépio numérico. Nunca desistiu e, no início do ano passado fez-se luz: “percebi que em 2013 estavam reunidas todas as condições para fazer um presépio numérico e meti mãos à obra”. O 1, 2 e 3 eram fáceis de ajustar como a própria Cristina explica: “o 1 é alto e firme e facilmente o via a representar S. José, o 2 curvado sobre algo e com ar protetor, expressando a ternura de mãe, identifiquei-o logo com Maria, e o 3, redondinho só podia ser o Menino”. Agora parece simples, mas custou-lhe ultrapassar a dificuldade de integrar o zero na obra: “foi como um ovo de Colombo.
Depois de muito pensar fez-se luz: seria a gruta”, refere. Quando reflete nisso, o seu coração enche-se de alegria: “foi um ano muito especial, em que surgiu alguém como o Papa Francisco, que para mim é um salvador, e em que pela primeira vez desde o século XIV, especificamente 1320, os números 1, 2 e 3 se alinharam num ano e em que se consegue representar um presépio numérico e com grande longevidade: com uma simples alteração nas posições relativas dos números, podemos representar os anos até 2019”. O resultado foi oferecê-lo em mãos ao Papa, no Vaticano, no último Natal, um dia que considera bem marcante e sereno na sua vida: “o melhor foi o aperto de mão que o Papa me deu, que de tão forte e caloroso sinto poder partilhá-lo”. Cristina Leiria aprendeu desde cedo a aceitar a vida como “natural”, onde é fundamental a busca da felicidade: “o que importa é vivenciar o silêncio interior (paz) e aprender com ensinamentos de grandes mestres como foi Cristo”.  
Um desses ensinamentos, a ajuda ao próximo, marca, desde há muitos anos a sua carreira como escultora: 10 por cento da receita da venda das suas obras reverte para a Amigos Sem Fronteiras, uma organização não-governamental que atua em Moçambique a favor de crianças desfavorecidas com aproveitamento académico acima da média e que assim podem prosseguir estudos universitários.
Atualmente tem em mãos o desenvolvimento da peça “O Anjo” que propôs ao Santuário de Fátima, e “As quatro estações”, quatro esculturas que tão depressa representam as diferentes estações do ano, as quatro personalidades-chave, as fases da vida, ou outras diferentes combinações que potenciam o desenvolvimento da imaginação emprestando aos quatro elementos um cariz lúdico. No desenvolvimento das suas esculturas dá muito valor ao tato, essencialmente na fase de acabamento: “vejo muito melhor com os olhos fechados”, admite. Por isso mesmo, nas suas exposições, há em regra um dia exclusivo para visitas por invisuais, para que possam “ver” com as suas mãos.
 
É na visão proporcionada pela janela da sua galeria que recupera a ligação à terra que escolheu para viver e a qual não consegue imaginar sem o mar. “Aqui é possível fazer tudo. Sinto Cascais como um cadinho, onde um muito amplo leque de experiências se pode concretizar devido ao seu microclima, orografia com os seus vales e ribeiras e proximidade do mar, da montanha e da Capital. Temos, por exemplo, um Paredão que está sempre no centro das atenções e é um dos nossos melhores cartões-de-visita”. Porém, aqui e ali, nas rotundas, fazem-lhe falta elementos simbólicos, como diz, “para que as pessoas possam usufruir de algo que lhes encha a alma, que lhes dê alento, mas que não prenda a atenção”. 
Trabalha primeiro em barro antes de dar corpo à sua arte em materiais como cristal, bronze, prata, estanho, pedra, entre outros. Já criou mais de 200 peças únicas.
 
Desenvolveu também 16 temas de escultura reproduzidos em série, editados em cristal pelo Grupo Vista Alegre/Atlantis. Sem disponibilidade anímica para organizar novas exposições, evoca a vontade de ver as suas muitas esculturas expostas num museu ou espaço público. 
 
 

Cascais Digital

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