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Gente que fica na história da história da gente | A.H. de Oliveira Marques

A comemoração do VI Centenário da Elevação de Cascais a Vila, celebrada em 1964, ficou registada na nossa memória colectiva, do ponto de vista editorial, como tendo permitido a publicação, em simultâneo, de mais de uma dezena de títulos (como de uma colecção se tratasse) consagrados a temas tão diferentes como: a geologia, a flora, a toponímia, a pré-história, a história militar, a história económica e social e, claro, a história local no quadro da história geral de Portugal.

Sob a coordenação institucional e no “terreno” do Vice-Presidente da Câmara de então, D. António Castelo-Branco, que com ele trouxe para Cascais alguns conhecidos olissipógrafos, vários foram os nomes que se ocuparam de assuntos específicos no quadro destes temas gerais, passando os seus textos a ser do conhecimento de todos. Não apenas para alguns cascalenses, cujos livros então editados figurariam doravante nas estantes das suas casas, mas, fundamentalmente, nos acervos das bibliotecas públicas, como na do Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães ou na Biblioteca Infantil e Juvenil, do Parque Marechal Carmona, onde milhares de pessoas os haveriam de consultar desde então (e continuam hoje a consultar).

Os seus nomes devem ser recordados em 2014: Manuel Ferreira de Andrade e capitão Afonso do Paço (ambos com dois títulos), Octávio da Veiga Ferreira, Georges Zbyszewski, João Diogo Correia, Manuel Acácio Pereira Lourenço, general Afonso Botelho, João de Carvalho e Vasconcelos e Maria das Dores Jorge de Goes.

Um entre eles merece especial referência, Manuel Ferreira de Andrade. Autor da monumental obra Cascais Vila da Corte: Oito Séculos de História e A vila de Cascais e o Terramoto de 1755. E deve ser recordado não só por estes dois títulos, mas pela dimensão e variedade da obra que produziu nos anos que se seguiram e até ao seu desaparecimento.

Muitos historiadores, a quem devemos, a partir daquela data, algumas das mais importantes páginas sobre a História de Cascais, publicaram principalmente após os anos 70 do século XX. É absolutamente justo também recordar aqui alguns desses nomes, pois proporcionaram-nos a investigação indispensável à criação de uma moderna historiografia em - e sobre - Cascais. Correndo o risco de cometer injusto esquecimento, recordo José d’Encarnação, Jorge Miranda ou Guilherme Cardoso, bem como Raquel Henriques da Silva ou, mesmo, Margarida Magalhães Ramalho, entre outros, apenas para citar a geração entretanto “nascida para a investigação” à data da celebração de 1964, e nos anos posteriores, e que permitiram “fazer a ponte” com os anos 80. 

O historiador A. H. de Oliveira Marques – hoje recordado nesta crónica (cuja extensão, por compreensível limitação editorial imposta, é inversamente proporcional à importância e dimensão da sua obra) – nascido em 1933 e então com trinta e um anos de idade, não foi chamado a contribuir para o dinamismo historiográfico então promovido pelo Município. 

Nascido em São Pedro do Estoril, em casa que ainda hoje se conserva (embora remodelada) e onde existe uma placa, entretanto colocada pela Autarquia a assinalar o facto, era autor,  já em 1964, recorde-se, de uma extensa e significativa obra publicada, composta por dezenas de títulos. Tinha já inclusive publicado em livro, em 1959, a sua inovadora dissertação de doutoramento intitulada Hansa e Portugal na Idade Média.

Para os mais atentos, desde os meados dos anos 50, mas fundamentalmente desde meados dos anos 60, início dos anos 70, que este Historiador cascalense se vinha afirmando como um dos mais reputados historiadores portugueses do século XX, tendo leccionado em Portugal e no estrangeiro (onde se exiliou, quando se viu impedido de o continuar a fazer em Portugal), regressando ao seu país para, com outros, ajudar a fundar a Universidade Nova de Lisboa, designadamente a “sua” Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. 

Escolho, entretanto, a data de 1987, porque lhe devo (devemos todos) ter animado a organização e marcado significativa presença nas I Jornadas de História de Cascais, que se  realizaram no Palácio da Cidadela, a 11 de Abril, tendo aí proferido a decisiva intervenção “Para a História de Cascais na Idade Média”.

Naquele dia, uma plêiade de historiadores, uns mais conhecidos do grande público, outros ainda nem tanto, que tinham Cascais como território de estudo, revisitaram vários temas de história, vendo as suas palestras um ano depois vertidas no Arquivo de Cascais – Boletim Cultural do Município, nº 6, relativo ao ano de 1987.

A.H. de Oliveira Marques apesar de autor também de uma História de Portugal, em três volumes, com mais de uma dezena de edições e milhares de exemplares de tiragem, não mais abandonou a sua terra. Para além de aqui continuar a habitar, foi ainda autor de: Para a História do Concelho de Cascais na Idade Média II (1988) (dedicado aos fundamentos do municipalismo), Carta de Vila de Cascais: Estudo e Transcrição (1989), e, ainda, o intimista prefácio à monografia da “sua Cae-Água” da autoria de Ana Cristina Antunes, Carlos Miguel Ferreira e Francisco Matta Pereira, intitulada De Cae Água a São Pedro do Estoril (2005).

Devo-lhe ainda a revelação do livro publicado em Frakfurt, em 1703, que adquiriu, e de onde se extraiu a imagem para a capa do Arquivo de Cascais – Boletim Cultural do Município, nº 11 (1992-94) e a ideia para o artigo de João José Alves Dias, Para a História da Iconografia de Cascais, incluído no mesmo volume.

A partir daquele sábado dia 11 de Abril de 1987, no Palácio da Cidadela, fundou-se um novo ciclo editorial, fomentando e diversificando em simultâneo a investigação histórica, através da revisitação de velhos temas e impulsionando novas linhas de trabalho. 

Hoje, como seus herdeiros e leitores, somos apenas “mais um degrau” para outros que se nos seguirão”. 

Cascais, março de 2014
António Carvalho
Cascalense.
Director do Museu Nacional de Arqueologia.

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