CONTACTOS
Fale connosco
800 203 186
Em rede

Está aqui

Luís Villas-Boas

João Moreira dos Santos nasceu em Lisboa, mas nutre grande carinho por Cascais. Doutorando em Ciências da Comunicação, é autor do programa Jazz a Dois” (RDP Antena 2), colaborando na imprensa (A Capital, Expresso, Blitz, etc), no site norte-americano AllaboutJazz e no blogue Jazz no País do Improviso, que fundou em 2003. É autor de oito livros – representados nas colecções da Library of Congress, New York Public Library, Harvard e Columbia University Libraries e British Library –, de vários musicais, exposições, cursos, roteiros culturais, e produtor de diversos festivais (Allgarve Jazz e ciclo Dose Dupla, CCB). O seu programa de divulgação do primeiro Dia Internacional do Jazz (2012) foi reconhecido internacionalmente pela UNESCO. Para o Boletim C e no âmbito desta rubrica que ao longo do ano evoca a celebração dos 650 anos de elevação de Cascais a Vila, fala-nos de Luís Villas-Boas, figura incontornável que adotou e foi adotada por Cascais.

Falar de Jazz em Portugal é falar de Luís Villas-Boas, nascido há 90 anos. E falar de Villas-Boas é falar de paixão. Paixão pelo Jazz, claro, mas também por Cascais, a sua segunda morada e aquela que, a partir da década de 1960, preferiu para o seu filho pródigo.

Natural de Lisboa, onde nasceu a 26 de Março de 1924, no seio de uma família com tradição musical. Foram precisos apenas seis anos para que o jovem Luís Villas-Boas ingressasse na Academia dos Amadores de Música e no Conservatório Nacional.

Não foi, porém, ali que se encontrou com o Jazz, que só lhe bateu à porta no final dos anos 30, quando a sua família se mudou para o Funchal. Duas circunstâncias haviam de o captar para o “som da surpresa”. Desde logo, o facto de a bordo do navio inglês que o trouxe de regresso a Lisboa se fazer ouvir, em disco, o contagiante “Saint Louis Blues”. E, depois, porque chegado à capital, logo a sua mãe lhe ofereceu um livro decisivo para apimentar a sua paixão.

Se Villas-Boas precisava, ainda assim, de um cupido, encontrou-o em Cascais, pois foi no Casino Estoril que assistiu, no Verão de 1941, ao seu primeiro concerto de jazz ao vivo, protagonizado pela Willie Lewis Orchestra. Esse foi também o ano que o levou à universidade, que trocaria, em 1944, por um primeiro emprego como Fiscal Auxiliar de Rádio nos CTT, onde lhe interessava ouvir, sobretudo, as grandes orquestras de swing. Face a este contexto, era quase previsível que Villas-Boas viria, um dia, a unir o Jazz e a rádio, o que sucedeu com o programa Hot Club, cujos primeiros episódios foram emitidos, em Novembro de 1945, na Emissora Nacional. O concelho de Cascais voltaria, porém, a cruzar-se com Villas-Boas, que, em Janeiro de 1946, logo levou o programa para o Rádio Clube Português, sediado na Parede.

Os anos 40 foram, pois, loriosos para Villas-Boas: com pouco mais de 20 anos de idade, era não só escutado a nível nacional, como escrevia artigos de opinião para a imprensa, sobretudo uma primeira história do jazz, e fundava, em 1948, o Hot Clube de Portugal.

Nos anos 50, empregou-se numa companhia aérea, o que lhe possibilitou viajar por todo o mundo em demanda do jazz, trazendo discos para a sua Discostudio, a primeira discoteca de jazz em Portugal. Generoso e ávido de partilhar o que ouvia lá fora, Villas-Boas sonhava trazer a Portugal os grandes nomes do Jazz. Encontrou nos empresários Vasco Morgado (Monumental) e José Gil (Império) parceiros à altura, tendo apresentado em Lisboa, nos anos 50 e 60, verdadeiras lendas do jazz, desde Sidney Bechet a Ella Fitzgerald e Duke Ellington, passando por Count Basie, Quincy Jones e Louis Armstrong. A sua amizade com George Wein – produtor do Festival de Jazz de Newport – foi o embrião para duas das suas mais importantes obras.

A primeira, foi a criação do clube de Jazz Luisiana, que abriu portas, em Cascais, em 1965, e logo um ano depois recebeu o quarteto de Charles Lloyd, com o jovem Keith Jarrett no piano. A segunda, o Cascais Jazz, dispensa apresentações. Iniciado em 1971, com João Braga e Hugo Lourenço, contou a partir de 1974 com a colaboração de Duarte Mendonça, tendo apresentado, entre muitos outros, Miles Davis, Thelonious Monk, Duke Ellington, Sarah Vaughan e Charles Mingus. Seguiu-se, também no Estoril, o festival Jazz Num Dia de Verão.

A actividade de Villas-Boas passou ainda pela RTP, onde criou vários programas, tendo integrado também o júri do Festival da Canção, e pela fundação de uma distribuidora discográfica. Não menos importantes foram as escolas de música que promoveu no Hot Clube e no Luisiana. Todo este extenso e notável trabalho cultural, assim como a sua vertente humanista e sindicalista, valeu-lhe, em 1989, a Ordem do Infante D. Henrique. Dez anos depois, faleceu em Lisboa, tendo a Assembleia da República lavrado um voto de pesar e um minuto de silêncio. Enterrado ao som de “Just a Closer Walk With Thee”, na sua campa ergueu-se uma lápide com o epitáfio “Aqui jazz Luís Villas-Boas”.

A sua obra mantém-se, porém, bem viva, através dos inúmeros e extraordinários músicos de jazz portugueses em actividade, dos festivais e concertos que se realizam anualmente entre nós e, sobretudo, do prestígio que o Jazz alcançou entre nós.

Cascais Digital

my_146x65loja_146x65_0geo_146x65_0fix_146x65360_146x65_0my_146x65loja_146x65_0geo_146x65_0fix_146x65360_146x65_0